Penso, logo existo –
É neste LOGO que tropeço.
Eu penso e eu sou; haveria mais verdade em:
Sinto, logo sou – ou mesmo: Creio, logo sou – pois isso equivale dizer:
Penso que sou.
Creio que sou.
Sinto que sou.
Ora, desta três proposições, a última apresenta-se a mim como a mais verdadeira, a única verdadeira; porque, enfim, penso que sou, talvez não implique que eu seja. Nem tampouco: creio que sou. Há tanta ousadia em passar de uma a outra quanto em fazer do “creio que Deus é” uma prova da existência de Deus. Ao passo que: “Sinto que sou…” – Aqui ou parte e juiz. Como me enganaria aqui?…
… Penso: logo sou.
E igualmente: sofro, respiro, sinto: logo sou. Pois se não se pode pensar em ser, pode-se ser sem pensar.
Os Frutos da Terra – André Gide